Uma invenção brasileira do início dos anos 1960 avança pela segunda década do século XXI conquistando participantes em ritmo acelerado: o consórcio. Mas não pense nos tradicionais, relacionados a imóveis e veículos. As administradoras de consórcios no Brasil identificam uma disparada no consórcio de serviços. Os dados mais recentes da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios ( Abac ) referem-se ao mês de junho deste ano, que fechou com 63,3 mil participantes nessa modalidade. O número é 83,5% superior aos 34,5 mil de junho de 2016.
O processo não muda, com os clientes formando um grupo em uma administradora, adquirindo cotas e esperando o sorteio para a contemplação, ou fazendo um lance ter acesso ao valor mais cedo. A diferença é que para serviços são atraído clientes que buscam crédito para viagens, festas, intercâmbio e até procedimentos cirúrgicos. Por não se tratar de um empréstimo, não há as taxas de juros.
Planejamento é a palavra-chave
O que existe é a taxa de administração, que no caso de serviços está em torno de 0,46% ao mês. Os juros médios para empréstimos em bancos estão em 4% ao mês, e em financeiras chegam a 7,2% ao mês, segundo o mais recente levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac). Essa diferença explica parte do interesse do público.
– É a modalidade de consórcio mais nova que existe no Brasil, não tem 10 anos ainda. E impressiona esse crescimento. A nossa explicação é, justamente, essa jovialidade da opção. Atinge uma parcela que não tinha esse instrumento para serviços. O crédito médio é de R$ 7 mil – afirma o presidente da Regional Sul da Abac, Augusto Letti.
Segundo levantamento da associação, o crédito é usado principalmente para serviços residenciais, festas, eventos, saúde e estética. Mas uma taxa atrativa em comparação a juros não deve ser o único critério para se entrar nesse tipo de consórcio. Saber se planejar será decisivo para se bater o martelo.
Na reta final do ano, quando as pessoas começam a preparar as metas do ano seguinte, é que se cogita muito o consórcio. Então, entra aí esse planejamento. E no caso dos serviços, é um produto muito vivo, se a ideia mudar, se usa o recurso para outra finalidade.
Mas educadores financeiros lembram ser importante uma reflexão cuidadosa sobre a necessidade do dinheiro. Realmente se precisa do dinheiro em curto prazo ou se pode juntar com mais calma. Com organização, por exemplo, uma opção pode ser investir.
– Um consórcio para tirar R$ 10 mil, em 36 meses, pode custar ao final entre R$ 12 mil a R$ 13 mil, com mensalidade perto de R$ 337 (sem taxas). Agora, se o consumidor optar por um investimento em renda fixa, por exemplo, poderá ter o mesmo valor tirando menos do orçamento. Investindo R$ 273 todo mês, também em 36 meses, se tira do bolso R$ 9,8 mil, mas se chega aos R$ 10 mil com os juros da aplicação – compara o educador financeiro Adriano Severo.
Tire as suas dúvidas sobre o consórcio
O que é:
– É a modalidade de compra baseada na união de pessoas em grupos para formar poupança para a aquisição de bens.
– A formação desses grupos é feita por uma administradora autorizada e fiscalizada pelo Banco Central.
– O valor do bem ou serviço é diluído em um prazo predeterminado, e todos os integrantes do grupo contribuem ao longo desse período.
– Só há duas maneiras de ser contemplado: o sorteio e o maior lance (antecipação de parcelas, que ainda não dá garantia de contemplação).
Como funciona com serviços:
– O interessado contrata o crédito desejado definindo o prazo. Em média, para serviços, o valor fica em R$ 7 mil em 36 meses.
– A cada ano, esse valor é corrigido pela inflação, conforme o contrato.
– Se sorteado antes dos 36 meses, o cliente recebe uma carta de crédito desse valor
– Mas esse dinheiro pode ser usado para outra finalidade, e até mesmo dividido para custear uma viagem e uma festa, por exemplo.
Os aspectos positivos:
– Não há taxa de juros, mas taxas mais baixas em relação a empréstimos ou financiamentos convencionais.
– Em média, para serviços, a taxa de administração é de 0,46% ao mês
– O cliente tem a garantia de receber o valor correspondente ao bem desejado.
– O crédito que o cliente recebe equivale a uma compra à vista e dá poder de negociação.
– Estimula a traçar um orçamento mensal e a programar o uso do dinheiro.
Mas é preciso levar em conta que:
– O consorciado não terá o bem imediatamente, vai depender de sorteio ou do maior lance.
– O valor pode vir somente no final do prazo, é preciso avaliar se é possível esperar até lá.
– Deve-se pagar as prestações até o fim, mesmo após a contemplação. Pode ter o nome inserido nos órgãos de restrição de crédito se deixar de pagar após ser contemplado.
– Quem deixa de pagar antes da contemplação não participa mais dos sorteios e pode não receber a carta de crédito, se for contemplado. Paga multas e juros
Os seis passos do consórcio de serviços
1 – Escolha uma administradora autorizada pelo Banco Central do Brasil.
2 – Entre em contato com a empresa e verifique os planos disponíveis.
3 – Avalie o peso da mensalidade por todo o período do consórcio, o valor pode sofrer ajustes nesse período se o bem se valorizar
4 – Verifique as regras de contemplação por sorteio e lance. Desconsidere promessa verbal, o prometido tem de estar no contrato.
5 – Com adesão confirmada, é hora de participar das assembleias, as reuniões em que ocorre a distribuição dos créditos.
6 – Após ser contemplado, lembre-se que se tem poder de compra à vista para negociar descontos.
Fonte: http://www.abac.org.br/sistema/noticiasTextuais/1_(201809253548)diario_gaucho.pdf